Testes

musiquinha, 1

musiquinha, 2

Ele estava lá, como todos os anos desde que esses malditos jogos haviam começado. Era pequeno e magro, seus cabelos já brancos e ralos na cabeça, e qualquer um que não soubesse quem ele era – coisa que era impossível em Panem – diria que ele era um senhor indefeso, talvez doente. Mas Coriolanus Snow estava longe de ser o que aparentava. Vê-lo ali, bem a minha frente, fez com que meu ódio por ele se intensificasse. Ele era a causa dos jogos existirem, ele era a causa da desgraça do país. Um déspota que não se importava com a miséria da população, contanto que ele continuasse vivendo no luxo e assistindo crianças matarem-se na Arena de sua mansão no Círculo da Cidade. Seu discurso de boas vindas mais parecia um convite para a morte, ele sentia um orgulho sádico, poderia se dizer, de trazer todos os anos este espetáculo para os cidadãos da Capital.

Câmeras registravam o momento, passando pelos rostos dos tributos, mostrando suas reações. Eu não podia demonstrar meu real sentimento em relação à Snow, não depois do que eu havia mostrado na entrevista. Agora o que todos esperavam de mim era que eu me mostrasse uma garota apaixonada e doce, bem diferente do que eu realmente era. Sorri, mas qualquer um que observasse mais atentamente veria que o sorriso era forçado. Tentei permanecer o mais próximo possível de Ephiol, era isso que a Capital queria ver.

Solanio retornou ao palco, para enfim finalizar as entrevistas, depois que Snow terminou seu discurso. Logo estávamos sendo encaminhados novamente para as carruagens com nossos parceiros de distrito. Tentei lembrar-me de meus adversários. Quais poderiam atrair mais patrocinadores depois desta noite? Bem, eu não estava tão atenta às entrevistas como deveria, mas era óbvio que alguns haviam se destacado, alguns por beleza, outros por simpatia, outros por atitude. Eu só podia contar com o tal romance para receber patrocinadores, pois de resto não acho que fui muito memorável. A não ser que uma afronta declarada e um Vitorioso aposentado contem como populares.

Sentada na carruagem, senti a necessidade de falar algo a Ephiol. – Eles acreditaram, então...acho que nos saímos bem. Eu sabia que seria fácil enganar a Capital, eles eram tão superficiais que nem sequer imaginariam que isso era uma estratégia. Após algumas quadras, a carruagem para em um estábulo semelhante ao do Centro de Preparação. Equipes de pessoas coloridas estavam por toda a parte, e não demorou para que a minha equipe de preparação aparecesse, ou parte dela. Alotta e Craven sorriam de orelha a orelha, elogiando meu desempenho e dizendo estarem comovidos com a história de amor entre eu e Ephiol, exigindo detalhes do romance. Eu apenas ri dos dois, dizendo estar exausta demais até mesmo para falar. Os dois pareceram se decepcionar, então prometi falar sobre isso mais tarde. Agora eu estava me importando com as pessoas da Capital? Oh, eu estava mudada. Definitivamente.

Caminhei até o elevador transparente do Centro de Treinamento, sem os sapatos, já que estes estavam me matando. Ephiol estava logo atrás, porque muitas pessoas ainda observavam-nos, principalmente as equipes de preparação dos outros tributos. Quando pensei em apertar o “9” no painel do elevador, ela entrou, perfeitamente arrumada, assim como antes do desfile. Autumn Heartalker, a Carrerista do #2. – Ah, você de novo? Tenho motivos para achar que está me seguindo? Meu humor havia melhorado consideravelmente, então eu não a trataria tão mal quanto antes. Eu não podia sair por aí provocando a ira dos outros tributos, afinal. Eu não queria ser um alvo na Arena. O melhor seria que eu fosse invisível para os outros, a não ser que esses outros fossem Patrocinadores.

Eu e Ephiol chegamos ao nono andar, nos separando assim que percebemos que ninguém nos observava. O quarto que eu agora era muito parecido com o anterior. Móveis caros, cama confortável, closet entupido de roupas, banheiro perfeito, além de uma varanda com vista para a Capital. Era um sonho, e um pesadelo ao mesmo tempo, visto que era naquele prédio que eu teria que me preparar para os jogos, treinando com os outros tributos e, é claro, mostrando minhas habilidades para os Idealizadores. Não estava nem um pouco ansiosa por este momento. Os Idealizadores eram as pessoas que poderiam muito bem me matar na Arena, pois controlavam tudo, desde simples armadilhas a mutações monstruosas. Eu teria que impressioná-los no treino e a única coisa que eu fazia bem o bastante era manusear um chicote. Uma nota alta significa que você é bom o bastante, mas uma ameaça para os outros tributos, logo, um alvo. Uma nota ruim significa que você é fraco e inútil, fácil de matar, logo, um alvo.

Não iria pensar nisso por enquanto, então deixei que Calíope tornasse meu cabelo castanho escuro novamente, removendo todo o spray que Amber havia usado, assim como a maquiagem do canto dos olhos. Alotta e Craven prepararam uma roupa para o jantar, que eu imediatamente descartei, pois combinava muito mais com eles do que comigo. Abri o closet, escolhendo uma simples, mas bonita. Garotas apaixonadas se arrumam para o seu amado.

Estava pronta quando uma representante da Capital bateu a porta do quarto nos chamando para o jantar. Segui com minha equipe de preparação, que se mostrava ainda animada com os acontecimentos da noite. No jantar eu teria que continuar com a representação, pois dos presentes à mesa, apenas Ephiol e Madder sabiam da farsa. Sentei ao lado de meu parceiro de distrito – agora, parceiro de romance – cumprimentando a todos. Amber estava do outro lado da mesa, com uma roupa diferente da que usava na entrevista. Não pude deixar de sorrir para ela.

Tentando quebrar o silêncio que se instalara na mesa, perguntei: - E então, o que acharam da apresentação? Não que eles fossem completamente sinceros, mas eu esperava que pelo menos Madder fizesse alguma crítica ao nosso desempenho.

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