[FP] Helena Joan Cavill

Era noite. Uma das noites mais bonitas que já vira, talvez isso fosse o efeito do alcool. O fato era que estava num parque de Detroit com suas amigas, voltando para sua casa após uma semana numa cidade do interior de Michigan. O lugarejo onde conhecera Adam. Foi pra lá para comemorar seus ultimos dias de solteira e finalmente estava de volta. A embriaguez estava clara em seu andar trôpego e em sua risada escandalosa. Embora estivesse verdadeiramente feliz. Não tinha motivos para não estar. Estava em sua despedida de solteiro, rodeada por suas melhores amigas. Amanhã se casaria com o homem mais perfeito. Com o amor de sua infância o cara com quem queria passar o resto de sua vida.

Estava com um sorriso que ia de orelha a orelha. Deixou seu corpo cair sobre um dos bancos do parque, próximo ao de suas amigas e permitiu-se jogar mais conversa fora. Estava no caminho certo para o sucesso em sua carreira. Seria uma diplomata. Faria a diferença no mundo, salvaria a todos. Acabaria com as guerras. Estava rodeada por pessoas maravilhosas. Seus pais viviam e eram o exemplo de harmonia e casamento bem sucedido. E seu noivo, Adam... ah, ele era a razão de sorrir todos os dias. Ele lhe daria um filho, já que descobrira que estava grávida de três semanas.

Abraçou suas amigas e permitiu-se chorar. Estava emocionada. Ansiosa. O dia de dizer sim e poder clamar que Adam era seu estava próximo. Foi quando notou luzes. Como lanternas. Aquelas luzes fortes, combinadas com o excesso de alcool que consumira, embrulharam seu estômago tremendamente. Pediu licença a suas amigas e foi para trás de uma moita, onde pudesse livrar-se daquele mal estar miserável.

Foi quando ouviu gritos. Gritos altos e histéricos. Gritos conhecidos. De repente toda a sobriedade tomou conta de si, devido à adrenalina. Não sabe porque, talvez fosse um instinto, mas Helena correu. Como se sua vida dependesse disso, vez ou outra olhando para trás para ver se havia alguém, ou algo, no seu encalço. Pediria ajuda para alguma autoridade. Precisava da policia. Mas quando chegou no centro de Londres o que viu a deixou em mais pânico ainda. Pessoas corriam de um lado para outro. Havia fumaça pelo lugar. Fogo. Caos. Adam. Seus pais. Correu para sua antiga casa, onde Adam estava hospedado com seus pais, finalizando os preparativos do casamento.

A casa não era tão perto do centro de Detroit, mas o desespero fez com que Helena chegasse no lugar rapidamente, entre alguns tropeços. E foi quando viu seus pais serem levados por pessoas que nunca antes vira. E Adam. Ele estava caído no chão, seu corpo inerte. Olhou ao redor, procurando por algo que pudesse usar como arma. Cacos de vidro. Não era grande coisa, mas ela tinha a vantagem da surpresa, e não era como se conseguisse pensar racionalmente.

Com fúria tamanha, avançou sobre as duas pessoas. Era como se estivesse possuída por algo que estava além de sua compreensão. Como uma fera que ansiava por sangue. Por sangue daqueles que haviam ferido as pessoas que amava. Jamais levariam seus pais. Jamais. Pulou nas costas de um, que tentou se desvencilhar, mas Helena aproveitou-se para afundar o caco de vidro no pescoço do rapaz, atingindo sua jugular. Em seguida partiu para a mulher. Esta foi um desafio, já que sabia da presença da humana, porém nada podia deter Helena. Sua visão era vermelha e seus dentes rangiam. Era uma descarga de adrenalina que nunca antes sentira. A mulher conseguiu atingir-lhe em um de seus ombros com uma bala. Aquilo teria doído como o inferno, mas Helena não sentiu coisa alguma.

Aproveitou-se da incredulidade na expressão da mulher para avançar sobre a mesma. Agarrou-se nela frontalmente e cravou um outro grande pedaço de vidro nas costas. Quando a mesma caiu de joelhos, retirou o caco de suas costas e finalizou-a com um outro corte no pescoço. Correu para seus pais, conferindo a pulsação dos mesmos. Eles ainda estavam vivos. Uma pequena faísca de esperança acendeu-se no peito de Helena enquanto seus batimentos cardíacos diminuiam de ritmo. Apressou-se para encontrar Adam. Adam, que jazia numa poça de sangue. Ajoelhou-se ao lado de seu amado e procurou por sua pulsação. Em vão. Ele havia sido baleado inúmeras vezes e aquela visão fez com que a humana virasse para o lado, vomitando. Seu estômago estava embrulhado, lágrimas escorriam violentamente por seu rosto e a adrenalina deixava seu corpo. Adam estava morto. Eles não se casariam. Não envelheceriam juntos.

Ouviu novos ruídos e tentou se levantar, quando percebeu que uma de suas pernas também havia sido atingida. Mesmo assim, forçou-se a levantar. Protegeria seus pais, eram a única coisa que havia lhe restado. E foi quando viu uma terceira pessoa, vestida exatamente como as duas que matara anteriormenta, aproximando-se. Levantou-se por fim e mancou em direção do rapaz, a dor em seu ombro finalmente lhe atingindo com força total. O rapaz olhou-a e deu-lhe as costas. E pegou seus pais, carregando-os para longe.

Mesmo sabendo que era inútil, tentou lhe seguir. Mas sua visão começou a ficar embaçada. A dor tornava-se insuportável. E então sentiu-se atingir o chão de concreto e deslizar para a inconsciência.


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Acordou num lugar estranho. Era um lugar rústico, com paredes de pedra. E parecia muito pouco limpo. Tentou se levantar, mas uma forte pontada em seu ombro lhe fez deitar novamente. Mordeu o lábio inferior, tentando lutar contra a dor. Era seu instinto de sobrevivência atacando novamente. Não se sentia propriamente ameaçada, mas sua percepção já lhe enganara antes.

Foi quando um rapaz entrou em seu campo de visão. Teve que forçar um pouco os olhos para conseguir observá-lo melhor. Sua cabeça doía como o diabo. Como se estivesse com a pior ressaca do mundo. Não se lembrava do que havia acontecido. Como foi parado ali. Só sabia que... hoje era seu casamento! Por que não estava se vestindo para encontrar Adam no altar? Adam! Será que ele estava bem? Será que estava lhe esperando?

O rapaz sentou calmamente ao seu lado, completamente alheio a agitação que tomava conta da mulher.

- O que está acontecendo? Que lugar é esse?

Ela soltou antes mesmo que ele se acomodasse. Queria saber de tudo. Queria sair dali.

- Você está em segurança agora. Está no centro da Resistência, em Nova Iorque. Salvamos você dos Buscadores antes de ontem.

Resistência? Buscadores? Nova Iorque? Espera... antes de ontem?

- O que houve? Eu preciso sair daqui! Meu casamento deveria ser ontem, mas aparentemente eu estava dormindo por um motivo que desconheço!

Gesticulava incansavelmente, esquecendo-se completamente de seu ombro.

- Você foi baleada, Helena. No ombro e na perna. Casamento...? Por um acaso, o suposto noivo tinha os cabelos negros e uma tatuagem de dragão nas costas...?

Espera. Como ele sabia?

- Sim, esse é o Adam. Sabe onde ele está?

- Sete palmos abaixo da terra, Helena. Você não se lembra dos ocorridos?

Apesar de suas palavras duras, o rapaz olhava-lhe com uma verdadeira expressão de pesar.

- VOCÊ ESTÁ LOUCO? Eu voltei de viagem recentemente com minhas amigas. Você deve ser algum sequestrador louco tentando fazer lavagem cerebral em mim. Pois saiba que eu não estou caindo nessa, então sugiro que mude sua tática agora mesmo.

- Helena, não é uma brincadeira. Gostaria que fosse, já que compactuo com seu sofrimento, mas não é. Negar pra si mesma não vai mudar a ocorrrência dos fatos.

- POIS EU NÃO ESTOU PREVENDO NENHUMA SINDROME DE ESTOCOLMO PARA HOJE. Pode parar com toda essa merda.

O rapaz suspirou pesadamente e ergueu as mãos, como se estivesse se rendendo. Sem mais uma palavra sequer, deixou o recinto.

Helena agora estava em pânico. Apertou os lençóis que estavam abaixo de seu corpo e apertou os olhos, achando que quando os abrisse estaria em sua cama de casal, observando enquanto Adam dormia com aquela expressão tão pacifica. Foi quando flashes passaram por sua mente. Ela estava revivendo os acontecidos da noite em que foi baleada. A mesma noite em que seus pais foram levados e Adam foi morto. Abriu os olhos, deixando-os arregalados enquanto novas lágrimas escorriam.

Ela não tinha mais nada. Não tinha mais ninguém. Tudo lhe foi tirado por aquelas pessoas. Aqueles ‘Buscadores’. Perdeu seu chão. Sua razão de viver. Provavelmente foi o mesmo fim de suas amigas. Mas por que? Lembrou-se do caos que dominava Detroit. O barulho de tiros. Os gritos. O que estava acontecendo? Não importa quem foi. Não importa a força deles. Nem o tamanho de seu exército. Helena vai acabar com um por um. Vai tirar deles a chance de ser feliz, assim como tiraram a dela. Vai vingar a morte de seu amor.


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Aquela noite foi há quatro anos. Ainda podia sentir o cheiro do sangue de Adam. Podia ver o caos que se estabelecera na cidade. No mundo. Ela finalmente aceitara a ajuda do rapaz e ouviu atentamente o que ele tinha a dizer. Sobre os malditos buscadores. Sobre as Almas, igualmente malditas. Eram os seres de maior presunção que conhecera. Não que tivesse conhecido muito alienigenas. Porém eles não tinham o direito de se intrometer na vida da Terra. Aquele lugar pertencia aos humanos e não a eles. A maioria dos humanos fazia mau uso dos recursos que a natureza disponilizava? Sim. Só que isso estava se revertendo. Era apenas uma questão de conscientização. Almas tinham uma experiência de vida mil vezes maior, o que lhes dava a responsabilidade de vir ensinar aos humanos, e não de ‘exterminá-lo’. Se eles eram tão superiores, por que precisavam do corpo dos humanos? Não importa se suas intenções fossem das melhores, se os humanos não podiam ser felizes, não podiam habitar aquele planeta pacificamente, aqueles seres repugnantes também não poderiam.

Helena concentrou toda a sua fúria e luto em tornar-se uma verdadeira exterminadora de Almas e defensora da causa humana. É seu povo. Claro que jamais criará laços como os que tinha com sua familia, que depois descobrira que foram transformados em Almas. Com Adam. Mas aqueles que ainda tem seus entes queridos merecem ser defendidos. Merecem ter um mundo só deles.

Paz? Isso não existe para Helena. Aponte para um traidor da causa, e lá estará Helena para julgá-lo. Para tornar sua vida um inferno. Ela faz o que é necessário para que as coisas dêem certo. Busca por traidores, rouba suprimentos das Almas, espiona-os. Tudo para fazer com que Adam, seja lá onde estiver, fique orgulhoso dela.